No ônibus, sentada, indo trabalhar, ouvindo música. É assim que me vejo todos os dias, às oito da manhã. É tão normal. Mas, o que não me parece normal é ver todos os dias, um amontoado de casas - se é que posso chamar assim - parecem com pilhas de papelão e madeira surrada, só que quadradas. Empilhadas, à beira de um terreno baldio, que em dias de chuva fica "encharcado", literalmente. Átras, há um muro farpado, que cerca um grande terreno, onde há um casarão, cavalos e gramado.
Aquelas casas, sempre chamam a minha atenção. Elas abrigam pessoas, mulheres, homens e crianças. Pais, mães e filhos. Pode ser, que alguns achem que morar lá é por falta de sorte, desonestidade, burrice ou vontade própria. Não sei, não acredito que seja qualquer uma das opções, mesmo tendo certeza de que a última, muitos de nós já fizemos, ou fazemos ainda hoje; "por vontade própria", isso mesmo, nós fizemos ou fazemos, porque ninguém diz, mas fazer..
Um mundo desigual, é isto que eu proponho, é o que temos, o que fazemos do nosso mundo. Veja aquele muro: de um lado, casarão, do outro, casebres; de um lado, fome, miséria, de outro comida farta, tranquilidade. É isto que vejo, quando olho para qualquer uma daquelas casas. É isto, como quando passo por lá, 30 segundos olhando para elas, o ônibus logo some no meio da estrada. É assim, vemos e logo viramos as costas e saímos andando, fazemos isso.
Fazer e não dizer nos faz cegos, e impocibilitados de ver a realidade com olhos de quem quer realmente enxergar. Faça, mas faça diferente. Fico pensando, o diferente, é tão difícil; neste caso, ainda mais difícil. E então me diga, é isto que você quer do seu mundo?
Kassiane Helmicki